sexta-feira, 27 de março de 2009

As Ruínas de Tiahuanaco

Perto do Lago Titicaca, no altiplano boliviano, a mais de 3.800 metro acima do nível do mar encontram-se as ruínas de uma cidade pré-histórica abandonada: TIAHUANACO.

Perto do Lago Titicaca, no altiplano boliviano, a mais de 3.800 metro acima do nível do mar encontram-se as ruínas de uma cidade pré-histórica abandonada: TIAHUANACO. Evocando especulações desvairadas, essas ruínas já foram chamadas de berço da civilização americana, e a imaginação apoderou-se delas como de poucos outros lugares. A fantasia de sábios autoploclamados ou meros curiosos levantou altos vôos: As ruínas datariam de uns 300 mil anos atrás; o clima do lugar seria paradisíaco, quando a cidade foi fundada, há 20 mil anos; ou seria construção inspirada por astronautas vindos de outros planetas...

Os relevos da Porta do Sol constituiram o calendário mais antigo e o mais precioso do mundo; a cidade teria uma idade de 13.630 anos, e fora abandonada depois de um cataclismo sísmico.(Posnansky). A verdade histórica é muito fascinante do que estas visõs de ficção cintífica, exatamente por estar baseada em fatos. Fatos pacientemente escavados do próprio solo que enterrou aquelas ruínas. Em 1533, caiu o império dos incas do Peru, e quando os espanhóis chegaram ao altiplano agreste, ficaram admiradoscom gigantescos restos arquitetônicos da cidade de Tiahuanaco... "Tiahuanaco" não é um povoado muito grande- escreveu Cieza Léon na sua Crónica del Peru ( Sevilha, 1553 ), falando do lugarejo colonial que se formou perto das ruínas- porém está distinguido pelos grandes edifícios que possui, que certamente são notáveis e para ver. perto dos aposentos principais encontra-se uma colina feita à mão, elevada sobre grandes fundamentos de pedra.

Mais além desta colina estão dois ídolos tão grandes que parecem pequenos gigantes...Próximo destas estátuas...permanece outro edifício cuja antiguidade...é causa de não se saber que povos fizeram tão grandes fundamentos e fortificações... Não se vê mais que uma muralha muito bem lavrada e que deve ter sido feita há muitos tempos e idades. Há muitos portões grandes de uma só pedra e não alcanço nem entendo com que instrumentos se lavrou. Considero estas as maiores antiguidades do Peru; e assim presume-se que antes dos incas reinarem, há muito tempo estavam feitas...

A Porta do Sol, fica na plataforma de Kalasasaya, e por certo o monumento mais conhecido de Tiahuanaco, nunca foi acabada. Ainda em cima à direita, O frade, escultura de Kalasasaya.

Segundo as tradições mais antigas dos índios aymarás, a cidade de Tiahuanaco amanheceu, depois de uma longa noite, pronta em todo o seu explendor... E contam que uma profunda escuridão reinava na Terra, até que um dia as águas do Titicaca se partiram, e surgiu Titihuirajocha com um grande séquito. Criou o Sol, a Lua e as estrelas e depois a grande cidade, onde reinou até que a maldade de seus súditos o obrigou a castigá-los, transformando-os em pedras. E conta ainda que, há muito tempo, lá apareceram os Huiarajochas, cavaleiros brancos, barbudos, cujo chefe dominava o sol a lua e as estrelas, movia a Terra, transladava montanhas e fazia chover fogo...

Estela de Bennett A primeira escavação arqueólogica cintífica, foi efetivada, entre junho e julho de 1932, pelo arqueólogo norte americano Wendell C. Bennett. Os trabalhos tinham por fim o estabelecimento de uma seqüencia estratig'rafica das cerâmicas do lugar- base imprescindível para cronologia exata e tarefa nunca testada antes. "A leste de Kalasasaya- escreveu Bennett (Escavations at Tiahuanaco, 1934) - há um p[equeno templo semi subterrâneo, 1,80m abaixo da superfície da base monolítica. O templo estava completamente coberto desde os princípios deste século... " O poço nº.VII foi feito na metade setentrional do templo. Tinha 4 x 2,5m, paralelo com a parede norte da estrutura. A cabeça de uma grande estátua monolítica foi encontrada a uma profundidade de meio metro, na porção sul do poço. Para desenterrá-la foi necessário estender a escavação seis metros ao sul e uns 3,50m de largura.

Infelizmente, a mudança da técnica da escavação impossibilitou a preservação dos níveis estratigráficos..." Assim em palavras secas e quase aborrecidas descreve Bennett a descoberta da maior estátua monolítica de Tiahuanaco. Depois de achar outra escultura, Bennett estabeleceu sua seqüencia cerâmica. Distinguiu 3 épocas: Antiga, Clássica, e Decadente. Seus achados estão hoje superados - mas ele sempre será lembrado como o descobridor da Estela de Bennett. Os secos relatos cientificos não dão uma idéia da perfeição das melhores peças de cerâmica que, geralmente sobre fundo castanho, luzem nas cores branca, vermelha, amarela e preta. Finamente polidas, às vezes apresentam desenhos extremamente complexos. Predomina a representação do felino e da ave de rapina. Outros animais são a serpente e o lhama, havendo também figura antropomórficas.

E é espantosa a imensa área de distribuição destas cerâmicas - e logo na assim chamada Época Decadente: das costas do pacifico até o norte da Argentina. Carlos Ponce Sanginés, Primeiro ( a partir de 1957 ) no centro de Investigações Arqueológicas de Tiwanaku ( eles preferem esta grafia), hoje Instituto Nacional de Arqueologia (INA). Suas escavações, que foram as maiores da América Latina, visaram descobrir detalhes para uma melhor compreenção da civilização tiahuanacota - e a restauração extensiva dos monumentos escavados. Uma série de datas de carbono 14 estabeleceu uma cronologia absoluta. E dos relatos do INA, das centenas de tabelas e desenhos técnicos e dos diversos objetos encontrados começa a ressurgir a história de Tiahuanaco. Mas antes de contá-la, será preciso ir até o sítio da antiga cidade, tal como se apresenta hoje, após cerca de 30 anos de escavações e restaurações.

As ruínas mais importantes da antiga metrópole encontram-se perto de uma cidadezinha colonial, e estão dominadas pela colina artificial de Akapana. Sabemos hoje que era uma pirâmide truncada, com dois ou três terraços, cuja base mede cerca de 1,80 x 1,35 metros. Em seu topo havia antigamente algumas construções, das quais poucas pedras eram visiveis. Recentes escavações desenterram escadarias e parte da fachada de lages esculpidas ( presume-se que parte da sup'fície da pirâmide estava revestida de barro, sendo provavelmente pintada ou esculpida ). As dimensões da base de Akapana assemelham-se à Pirâmide do Sol, de Teotihuacán, no México. Como esta, seu corpo principal está direcionado para oeste, e, ainda como esta, servia possivelmente de base para construções sacras.

Do cimo de Akapana, o visitante pode abranger com a vista as construções líticas da antiga cidade ( O conjunto Pumapunku, que só de perto se revela como o resto de outra pirâmide com gigantescas edificações monolíticas em ruínas; o quadrângulo rebaixado do templete semi-subterrâneo; a escada monolítica, com seu portão monumental reconstruído; a grande plataforma de Kalasasaya, com seus muros reconstruídos - outrora apenas delimitada por fileiras de pilares monolíticos - com a Porta do Sol; a colina Lankakollu, antigamente outra pirâmide) e vários campos de escavação com suas quadrangulaçõestípicas. A distância vêem-se o lugarejo moderno, cúpulas e a torre da igreja colonial - tudo deitado na planície, com campos arados, terra e poeira seca. Poucos carneiros e vacas comem o capim duro no altiplano. E, nos horizontes das montanhas.

Disseminadas pelos campos há pedras esculpidas, podendo o visitante observador encontrar grande quantidade de pequenos fragmentos de cerâmica do típico estilo tiahuanacota. Resumindo as descobertas de Carlos Ponce Sanginés e seus colaboradores, havia cinco períodos no desenvolvimento de um sítio: Épocas I e II-aldeia; épocasIII e IV-Urbano; época V-Imperial.

A mais antiga data do sítio revelada pelo carbono 14, é aproximadamente, o ano de 1500 a.C. Nas épocas I e II Tiahuanaco viveu como aldeia de poucas centenas de habitantes, com economia auto-suficiente, mas em intercâmbio com os vizinhos. Por volta do século II de nossa era, essa mudança causou uma série de reações em cadeia: apareceu ali um aparelho estatal bem administrado, uma sociedade dividida em importações, com artesãos e artistas que precisavam de matérias-primas oriundas de lugares distantes.

Como eco, houve notável aumento demográfico. Segundo se calcula, aí pelo ano de 200 a produção agricola da região foi tal que um terço bastava para alimentar os componentes . O restante, arrecadado em forma de impostos, servia para manter a casta dominante dos aristocratas e sacerdotes, e para executar obras por elas planejadas, ou seja, as monumentais estruturas arquitetônicas que marcaram essa época: construções sacras, como a pirâmide truncada de Akapana; templos como o kalasasaya e Pumapunku, cada um com cerca de quatro hectares de superfície, o templo, semi-subterrâneo, escavado em 1960-1964, além de vários palácios.

Templete

Como a cidade não fosse auto-suficiente, a propensão era aumentar a área sob sua influência. Na verdade, a tenndência expansionista, tão pronunciada mais tarde, começou já nesta época ( a III, c. 200 d.C.). Por volta do século VII, a cidade entrou na sua fase clássica - numa era de maturidade que se deu ênfase à beleza, modificando e aperfeiçoando as coisas. As melhores esculturas e cerâmicas datam desse tempo. Com freqüência são representadas ordens de guerreiros ( tal como no México): as da águia ( ou do condor) e as do felino, portanto as respectiva máscaras , segurando armas e ostentando como peitoral a lâmina de um machado, símbolo do combatente.

Por essa época as hostes de Tiahuanaco tinham estabelecido enclaves coloniais (em que houve grande intercâmbio comercial) nas regiões de Ayacucho, no Peru ( Huari), e Atacama no Chile. Como mostram as fotografias aéreas, a cidade alcançou no seu apogeu uma superfície de cerca de 420 hectares, 4% dos quais era ocupados por construções religioso-cerimoniais e por pálacios. Tal núcleo era cuidadosamente planificado, como provavelmente o eram as habitações populares, que eram feitas em adobe. O último estágio de Tiahuanaco foi imperial, numa vasta expansão bélica militar.

Devemos ver essas conquistas como fato político, se bem que associado às crenças religiosas. Os guerreiros podem ser observados na arte, portanto machado em uma mão e cabeça trófeu na outra. Ao contrário dos incas posteriores, sua batalhas eram dominadas pelo manejo do arco e flecha. Em torno de 910 Tiahuanaco encontrava-se no apogeu de seu poder. Hoje conhecemos 125 sítios pertencentes à sua cultura, 87 dos quais da época imperial. Com um território que deve ter coberto seiscentos mil quilômetros quadrados, calcula-se sua população hipotética em três milhões e seiscentos mil habitantes ( com uma densidade populacional de seis habitantes por quilômetro quadrado ) no fim de sua tragetória. A braçando a oeste a costa do Pacífico, e tendo ao centro a cordilheira e o altiplano, esses domínios abarcavam, a leste, o vale de temperatura constantemente amena. No século XIII o império desmoronou, não se sabe bem o porquê Séculos depois os incas tentaram ressuscitar a cidade. Presume-se que eram de fala aymará os construtores de Tiahuanaco. Pumapunku significa Porta do Puma - acredita-se hoje que era o santuário dos guerreiros do felino.

Antes das últimas escavações recentemente, o lugar apresentava-se como colina aparentemente natural, de cerca de doze metros de altura. Em seu topo existe uma plataforma que, medindo perto de vinte por cinquenta metros, é formada por imensos blocos de pedra esculpida vindos de uma pedreira cem quilômetros distante dali. O maior bloco pesa umas 150 toneladas. Esta plataforma e os restos das constrções, às quais servia de base, foram destruídos pelos espanhóis que, à procura de tesouros, fizeram voar enormes pedras com grande quantidade de pólvora. Nos escombros distinguem se fragmentos de vários portões monolíticos esculpidos, similares da famosa Porta do Sol. Neste sítio iniciaram-se em 1977- o que foi continuado por três temporadas - , mas ainda não se publicaram as conclusões cintíficas dessas investigações.

Foram encontradas as esquinas da estrutura, que sabe-se agora medir cento e trinta por duzentos metros. Trata-se de uma pirâmide de terra com fachada de muralha escalonada, construída com pedras muito bem lavradas, assentadas diretamente no chão, sem alicerces. Em muitos lugares o muro foi demolido, e suas pedras retangulares levadas para La Paz. Explorando mais, encontran-se restos de um piso vermelho de argila polida e também outro muro mais antigo (escondido por trás da camada de terra aplicada para receber o mais recente) , que se encontra em exelente estado de preservação. Para os arqueólogos bolivianos não há mais grandes mistérios na história do império de Tiahuanaco: expansão bélica, apoiada em capiais secundários sempre dependentes da metrópole nas margens do lago Titicaca. Diferentes versões estilísticas nada mais são do que a expressão de uma arte colonial inflluenciada pela metrópole. Numa palavra, era um império boliviano. Já os estudiosos peruanos vêem as coisa de forma diferente. Para eles também começa em Tiahuanaco. Mas apontam certas semelhanças estilísticas que indicam forte influência vinda de Chávin ( da qual também focalizo nesta pagína ), notadamente quanto às divindades do felino, da ave de rapina e dos "anjos atigrados" (É verdade que nem o felino nem a serpente habitam as regiões altas de Chávin ou Tiahuanaco, sinal de que a religião destas divindades não podia ser autóctone.)

Especialmente os peruanos negam a Tiahuanaco o comando da fase expansiva ou imperial. Reivindicam como capital desse império a cidade de Huari, no departamento peruano de Ayacucho. É certo que o estilo da cerâmica e escultura lítica mudou no caminho de Tiahuanaco para Huari (ou Wari) , cidade que sofreu duas fortes influências estilísticas ( e, naturalmente, culturais ) : de Nazca, na costa do Pacífico, e de Tiahuanaco. Da confluência destas duas correntes formou-se o foco imperial de Huari, que por sua vez conquistou o grande império. Estranho como fronteiras modernas podem influenciar a visão da história do passado.Não entraremos nos méritos das duas versões. É certo que existiu um império influenciado por Tiahuanaco, que nos séculos XI-XII dominou grande parte da Bolívia, Peru, Chile e Argentina. Se a capital política era Tiahunaco, Huari ( os arqueólogos bolivianos frisam que Tiahuanaco era sem dúvida muito maior que Huari ), ou outro lugar qualquer - é coisa que só os especialistas podem decidir.

O que importa aqui é o adiantamento tecnológico ( especialmente da metalurgia ) e artistico de Tiahuanaco e Huari, com suas maravilhosas esculturas líticas e cerâmicas policromas, e, preservadas pelo clima seco da costa pacífica, as fabulosas fazendas de lã de lhama. Nossos conhecimentos da história de Tiahuanaco-Huari sempre ficarão limitados Não existe escritura que possa decifrar. As figuras misteriosas da Porta do Sol, do Monólito Bennett ou de certos tecidos são possivelmente ideogramas ou até hieróglifos, mas não temos qualquer base para uma interpretação cintífica das mesmas. Nunca saberemos a completa história de Tiahuanaco, pois todas as informações que temos a seu respeito vêm dos indicios tirados da terra e das próprias obras de arte, que podemos estudar e tentar interpretar.



Natureza virtual, conservação real - Gustavo Faleiros


Pode soar um pouco estranho ou até assustar conservacionistas mais tradicionais, mas a Internet está ganhando espaço como instrumento de proteção da natureza.

Pode soar um pouco estranho ou até assustar conservacionistas mais tradicionais, mas a Internet está ganhando espaço como instrumento de proteção da natureza. A difusão de informação por campanhas na rede ou a mobilização através de listas de e-mail já é arma eficiente para as organizações não-governamentais (ongs). Agora, há cada vez mais grupos ambientalistas olhando para ferramentas de realidade virtual, como Google Earth ou Windows Virtual Earth, para ganhar aliados em suas causas e até mesmo angariar fundos para conservação.

Um dos projetos mais inovadores é o da Healthy Planet (Planeta Saudável), baseada no Reino Unido. Sua idéia é permitir que qualquer pessoa possa adotar um hectare de terra preservada em parques nacionais ao redor do planeta. A proposta tem tudo para mexer com os brios de nacionalistas, mas parece simples e efetiva. A entidade mantém em seu site na Internet uma lista com pequenas associações locais que trabalham em áreas protegidas. Quem acessa pode fazer uma visita virtual ao local do projeto, através do Google Maps ou do Google Earth, e escolher um hectare para fazer uma doação, ou mesmo oferecer de presente para um amigo ou familiar.

Na prática, ninguém está comprando um pedaço da Amazônia, ou de qualquer outro local. Apenas se escolhe um lugar digno de ser preservado para as futuras gerações e se garante que as ongs que ali trabalham tenham recursos.

Mark Mulligan é fundador da Healthy Planet e professor de Sistemas de Informação Geográfica no King's College, da Universidade de Londres (Inglaterra). Ele usou sua expertise para montar um sistema simples, em que as pessoas acompanham pela rede mundial o que ocorre nas unidades de conservação. Ele ofereceu a nova ferramenta para grandes ongs, que, segundo ele, educadamente recusaram a oferta. “Eu acho que elas têm medo de um envolvimento tão direto com seus doadores”, analisa.

Tornar doadores mais cientes de qual é o destino de seu dinheiro é uma das prioridades para a entidade de Mulligan. “Acho que nossa proposta vai contra o comportamento de pessoas que doam 10 dólares por mês a uma grande ong e acham que estão bem com sua consciência”, argumenta. Por isso, uma das exigências para as pequenas associações com projetos na página da Healthy Planet é produzir relatórios nos quais quem adotou um hectare consiga literalmente visualizar os benefícios da conservação. Assim fotos, dados e imagens de satélite permitem um passeio virtual nos parques e outros tipos de reservas.

Se o resultado não agradar, as doações podem ser canceladas ou realocadas. “Mesmo que o projeto dê errado, a experiência servirá para que as pessoas entendam que conservação não é algo fácil. Muitas vezes, mesmo com dinheiro, há fatores políticos que não são controláveis”, diz o professor da Universidade de Londres.

Aliás, garante Mulligan, a intenção não é tornar parques nacionais ricos o suficiente para que os governos locais achem que não precisam fazer mais nada. Segundo ele, os projetos são pequenos, algo em torno de 5 mil dólares, e beneficiam os parques com equipamentos básicos, como combustível, ou instruem moradores da região a não buscarem lenha dentro da área protegida. Por enquanto, a Healthy Planet tem parcerias com ongs na Tailândia, Equador e Colômbia. No Brasil, nenhuma iniciativa em curso, por enquanto.

Do videogame à ecologia

Para explorar o potencial de projetos como o da Healthy Planet, a Google, hoje uma das maiores empresas de tecnologia de informação, criou um departamento chamado Google Earth Solidário, voltado exclusivamente a buscar aplicações não-comerciais para sue globo virtual. Recentemente, em conversa com a reportagem de O Eco, a gerente do Departamento Solidário, Rebeca Moore, contou que os inventores do Google Earth vieram da indústria do videogame e pensaram originalmente em usar as ferramentas virtuais para propaganda ou projetos de engenharia. Mas tudo mudou.

“Foi quando eles souberam que o exército americano tinha usado o Google Earth para montar um esquema de resgate depois do Furacão Katrina que eles perceberam um enorme potencial. Hoje, o uso não-comercial é o que dá mais orgulho para eles”, comentou Rebeca.

Os exemplos do uso de globos virtuais em projetos de meio ambiente são muitos e bastante interessantes. Até mesmo agências oficiais das Nações Unidas estão criando conteúdo para tornar mais fácil a visualização de problemas ambientais. O Atlas de Mudança Ambiental, do Programa da ONU de Meio Ambiente (PNUMA), é um trabalho que vale a pena explorar. Com imagens de satélite de diversas regiões do globo, mostram como poluição, urbanização e desmatamento promoveram mudanças em um curto espaço de tempo. No Brasil, há exemplos da urbanização do Distrito Federal e na região de Manaus, além de imagens do ritmo do desmatamento no estado de Rondônia (clique na imagem ao lado).

No campo da conservação, há muitos outros exemplos (veja abaixo). Outro que ganhou destaque nos últimos tempos foi o website criado pelo Programa Marinho da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A página Protect Planet Ocean possui um mapa, também no Google Earth, com a localização de todas as unidades de conservação marinhas do planeta. A base de dados não está 100% pronta, mas clicando nos ícones de muitas delas, é possível saber informações sobre tamanho, espécies e vegetação presentes. O internauta pode acrescentar fotos ou vídeos do local.

"Eu acho estas novas ferramentas muito importantes. Elas criaram uma nova audiência, de milhões de pessoas ao redor do mundo, de cientistas a conservacionistas enrustidos. Mesmo pessoas que raramente saem para dar uma caminhada no campo, ainda poderão apreciar e explorar um pouco do mundo real através do mundo virtual" diz o coordenador do Protect Planet Ocean, Dan Laffoley.