sexta-feira, 27 de março de 2009

Natureza virtual, conservação real - Gustavo Faleiros


Pode soar um pouco estranho ou até assustar conservacionistas mais tradicionais, mas a Internet está ganhando espaço como instrumento de proteção da natureza.

Pode soar um pouco estranho ou até assustar conservacionistas mais tradicionais, mas a Internet está ganhando espaço como instrumento de proteção da natureza. A difusão de informação por campanhas na rede ou a mobilização através de listas de e-mail já é arma eficiente para as organizações não-governamentais (ongs). Agora, há cada vez mais grupos ambientalistas olhando para ferramentas de realidade virtual, como Google Earth ou Windows Virtual Earth, para ganhar aliados em suas causas e até mesmo angariar fundos para conservação.

Um dos projetos mais inovadores é o da Healthy Planet (Planeta Saudável), baseada no Reino Unido. Sua idéia é permitir que qualquer pessoa possa adotar um hectare de terra preservada em parques nacionais ao redor do planeta. A proposta tem tudo para mexer com os brios de nacionalistas, mas parece simples e efetiva. A entidade mantém em seu site na Internet uma lista com pequenas associações locais que trabalham em áreas protegidas. Quem acessa pode fazer uma visita virtual ao local do projeto, através do Google Maps ou do Google Earth, e escolher um hectare para fazer uma doação, ou mesmo oferecer de presente para um amigo ou familiar.

Na prática, ninguém está comprando um pedaço da Amazônia, ou de qualquer outro local. Apenas se escolhe um lugar digno de ser preservado para as futuras gerações e se garante que as ongs que ali trabalham tenham recursos.

Mark Mulligan é fundador da Healthy Planet e professor de Sistemas de Informação Geográfica no King's College, da Universidade de Londres (Inglaterra). Ele usou sua expertise para montar um sistema simples, em que as pessoas acompanham pela rede mundial o que ocorre nas unidades de conservação. Ele ofereceu a nova ferramenta para grandes ongs, que, segundo ele, educadamente recusaram a oferta. “Eu acho que elas têm medo de um envolvimento tão direto com seus doadores”, analisa.

Tornar doadores mais cientes de qual é o destino de seu dinheiro é uma das prioridades para a entidade de Mulligan. “Acho que nossa proposta vai contra o comportamento de pessoas que doam 10 dólares por mês a uma grande ong e acham que estão bem com sua consciência”, argumenta. Por isso, uma das exigências para as pequenas associações com projetos na página da Healthy Planet é produzir relatórios nos quais quem adotou um hectare consiga literalmente visualizar os benefícios da conservação. Assim fotos, dados e imagens de satélite permitem um passeio virtual nos parques e outros tipos de reservas.

Se o resultado não agradar, as doações podem ser canceladas ou realocadas. “Mesmo que o projeto dê errado, a experiência servirá para que as pessoas entendam que conservação não é algo fácil. Muitas vezes, mesmo com dinheiro, há fatores políticos que não são controláveis”, diz o professor da Universidade de Londres.

Aliás, garante Mulligan, a intenção não é tornar parques nacionais ricos o suficiente para que os governos locais achem que não precisam fazer mais nada. Segundo ele, os projetos são pequenos, algo em torno de 5 mil dólares, e beneficiam os parques com equipamentos básicos, como combustível, ou instruem moradores da região a não buscarem lenha dentro da área protegida. Por enquanto, a Healthy Planet tem parcerias com ongs na Tailândia, Equador e Colômbia. No Brasil, nenhuma iniciativa em curso, por enquanto.

Do videogame à ecologia

Para explorar o potencial de projetos como o da Healthy Planet, a Google, hoje uma das maiores empresas de tecnologia de informação, criou um departamento chamado Google Earth Solidário, voltado exclusivamente a buscar aplicações não-comerciais para sue globo virtual. Recentemente, em conversa com a reportagem de O Eco, a gerente do Departamento Solidário, Rebeca Moore, contou que os inventores do Google Earth vieram da indústria do videogame e pensaram originalmente em usar as ferramentas virtuais para propaganda ou projetos de engenharia. Mas tudo mudou.

“Foi quando eles souberam que o exército americano tinha usado o Google Earth para montar um esquema de resgate depois do Furacão Katrina que eles perceberam um enorme potencial. Hoje, o uso não-comercial é o que dá mais orgulho para eles”, comentou Rebeca.

Os exemplos do uso de globos virtuais em projetos de meio ambiente são muitos e bastante interessantes. Até mesmo agências oficiais das Nações Unidas estão criando conteúdo para tornar mais fácil a visualização de problemas ambientais. O Atlas de Mudança Ambiental, do Programa da ONU de Meio Ambiente (PNUMA), é um trabalho que vale a pena explorar. Com imagens de satélite de diversas regiões do globo, mostram como poluição, urbanização e desmatamento promoveram mudanças em um curto espaço de tempo. No Brasil, há exemplos da urbanização do Distrito Federal e na região de Manaus, além de imagens do ritmo do desmatamento no estado de Rondônia (clique na imagem ao lado).

No campo da conservação, há muitos outros exemplos (veja abaixo). Outro que ganhou destaque nos últimos tempos foi o website criado pelo Programa Marinho da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A página Protect Planet Ocean possui um mapa, também no Google Earth, com a localização de todas as unidades de conservação marinhas do planeta. A base de dados não está 100% pronta, mas clicando nos ícones de muitas delas, é possível saber informações sobre tamanho, espécies e vegetação presentes. O internauta pode acrescentar fotos ou vídeos do local.

"Eu acho estas novas ferramentas muito importantes. Elas criaram uma nova audiência, de milhões de pessoas ao redor do mundo, de cientistas a conservacionistas enrustidos. Mesmo pessoas que raramente saem para dar uma caminhada no campo, ainda poderão apreciar e explorar um pouco do mundo real através do mundo virtual" diz o coordenador do Protect Planet Ocean, Dan Laffoley.

Nenhum comentário:

Postar um comentário